QUEM DIZ QUE A TERCEIRA IDADE É A “MELHOR IDADE”?

QUEM DIZ QUE A TERCEIRA IDADE É A “MELHOR IDADE”?
Na clínica terapêutica enfrentamos muitas vezes situações em que os pacientes chegam com problemas pontuais quando, na verdade, o pano de fundo é o difícil enfrentamento do processo de envelhecimento. Alguns chegam buscando ajuda para atravessar uma fase de doença num corpo que sempre havia sido saudável. Primeiro susto, em seguida indignação por se sentirem traídos por esse corpo que até então funcionava tão bem... “Como isso aconteceu comigo, logo eu que me cuidava?”.

Outros chegam aos nossos consultórios empurrados por filhos ou amigos que percebem mudanças de comportamento e de humor... “Está todo mundo dizendo que estou chata, ranzinza, teimosa, hipersensível... não me sinto assim, mas concordei em fazer terapia... só um pouquinho... pra ver se param de falar nisso.” Por trás dessas queixas o que percebemos é a dificuldade em lidar com as grandes transformações que ocorrem na Terceira Idade. E quantos estão preparados pra isso? Podemos mesmo nos sentir equipados pra atravessar essa nova etapa de nossas vidas?

 Dois estudiosos do envelhecimento, Deepak Chopra (médico indiano, radicado nos EUA, autor internacional de diversos livros e palestras sobre a conexão mente/corpo) e Ana Claudia Quintana Arantes (geriatra paulista, uma das maiores referências sobre Cuidados Paliativos no Brasil, também autora, com inúmeras palestras sobre envelhecimento e medo da morte) trazem contribuições interessantes que podem auxiliar terapeutas e pacientes a estabelecer um diálogo franco sobre temas tão difíceis de serem abordados. Além da complexidade do assunto, por envolver pré-conceitos e crenças muito arraigadas na sociedade ocidental, ainda lidamos com outra dificuldade que vem se somar. Se somos profissionais de pouca idade, os pacientes acham que não podemos entender suas questões e não se entregam ao trabalho que está sendo feito. Ao contrário, se também somos idosos, o risco é nos embolarmos na contratransferência com o paciente, perdermos a singularidade daquela história de vida e ofuscarmos suas formas criativas de lidar com as próprias limitações.

 Segundo Ana Claudia a questão é muito simples. “Qual a outra alternativa?” indaga. “Quem prefere não envelhecer?” Desmistificando e naturalizando esse tempo que vai acontecer para todos nós, ou melhor, para a grande maioria que estará viva para além dos 60/70 anos, ela se utiliza da metáfora do deserto. Todos atravessarão o deserto sem possibilidade de volta.  Conseguirão mais sucesso nessa travessia aqueles que se prepararem com antecedência. Faz frio à noite e você não levou agasalho? Faz um sol escaldante de dia e você não comprou filtro solar? Não tem água e você não se preocupou em providenciar?... Ou seja, podemos apenas viver sem querer pensar no assunto (mas o deserto estará sempre lá nos esperando!). A outra possibilidade é nos prepararmos para as limitações que virão, abandonar fantasias e encarar a realidade. Sim, temos que passar por isso, todavia podemos escolher formas mais leves e saudáveis de percorrer a última etapa de nossas vidas. E isso envolve não só cuidados com o corpo, mas também com a mente. Hoje em dia é comum vermos pessoas com idade avançada com uma preocupação extrema com a forma exterior de seus corpos. Academia, dieta, botox, preenchimento. Nada contra. Entretanto, do que vale tudo isso se como “zumbis existenciais” interiormente são ilhas de ansiedade, insegurança, medo do futuro, relacionamentos difíceis? Então, o que garante uma boa velhice? A geriatra dá algumas dicas. Para além da responsabilidade com alimentação e exercícios físicos, que ela acredita serem fundamentais, há que cultivar também qualidades espirituais, ampliando seu estado interior de amorosidade. Brinca que quando as juntas endurecem, o coração amolece. Isso torna mais fácil receber cuidados como presentes e não como castigo. Nesse processo de polimento da alma indica como grande aliada a meditação. Assim, é possível ver que no deserto tem muita beleza, mas ela só está disponível pra quem treinou os olhos pra enxergar.

Complementando essa visão podemos aprender com Chopra que, ao contrário dos conceitos milenares cristalizados sobre envelhecimento, é possível, em boa medida, comandar o modo pelo qual nosso corpo metaboliza o tempo. Combinando a medicina psicossomática às atuais pesquisas sobre o antienvelhecimento, ele demonstra como os efeitos desagradáveis da idade podem ser evitados em grande parte. Ou seja, valorizando a alimentação, modificando a relação com o mundo exterior e exercitando o silêncio interior é possível ao ser humano não só retardar o processo de envelhecimento como também minimizar seus aspectos.
Utilizando-se das descobertas da física quântica, observa que velhice, senilidade, doenças... nada disso tem que, necessariamente, fazer parte de nossas vidas. Nossos corpos foram programados para o envelhecimento por condicionamentos milenares de uma percepção de tempo linear com toda sua carga de ansiedade e medo. Hoje, a nova percepção multidimensional do tempo torna possível uma outra consciência que enfatiza conceitos de liberdade emocional, energia liberada, paz, poder, harmonia... Por essa razão é importante entrar em contato com seu silêncio, desfrutar da natureza, confiar nos próprios sentimentos, ser capaz de permanecer equilibrado e funcionar mesmo no caos, brincar e rir com a vida, estar sempre aberto a novas possibilidades... essas são algumas dicas para que se possa ter uma nova relação com um corpo e uma mente que, mesmo com muitos anos de vida, não tem idade nem fronteiras.

Para aprofundar o tema ver: Ana Claudia Quintana Arantes. A morte é um dia que vale a pena. Editora Sextante e Deepak Chopra. Corpo sem idade, mente sem fronteiras: a alternativa quântica para o envelhecimento. Editora Rocco.

Postado em: 04/09/2019

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